O grande sucesso nacional “Meu
nome não é Johnny” é protagonizado pelo autor Selton Mello, que
possui grande talento e credibilidade quando o assunto é cinema.
Ele representa de maneira simples, porém, brilhante, o polêmico
João Estrella, que apesar de jovem, se tornou um dos maiores
traficantes de classe média da zona sul do Rio de Janeiro. O drama
foi lançado em 2008 com duração de 107 minutos e contou com
direção e roteiro de Mauro Lima e Mariza Leão. O longa-metragem é
baseado em fatos reais e teve inspiração no livro escrito pelo
jornalista Guilherme Fiúza sobre a vida de João Guilherme Estrella.
O elenco ainda conta com a participação de grandes atores como Cléo
Pires, Júlia Lemmertz, Kássia Kiss, Giulio Lopes, Ângelo Paes
Leme, Rafaela Mandelli, entre outros.
Na escola, João sempre se
destacou no grupo de amigos em que andava. Era um líder nato. Em
casa, sempre foi criado com muita liberdade. Seus pais se separaram
quando ele ainda estava na adolescência. Foi nessa fase que após
ter fumado o primeiro baseado por diversão com os amigos, João
passa a ficar cada vez mais dependente das drogas. À medida que vai
crescendo e se tornando adulto, seu vício também cresce e ele passa
a vender cocaína e ganhar dinheiro fácil, como ele nunca viu. João
se vê vislumbrado e tentado a cair de vez no mundo do crime, a
ganhar dinheiro fácil e poder gastá-lo com farras e ter uma vida de
boêmio, como sempre quis. Eis que se tornou, sem perceber, e com a
ajuda dos amigos também usuários de entorpecentes, o maior
traficante de classe média do Rio de Janeiro nos anos 80. De certa
maneira, João foi naturalmente e sem perceber um revolucionário do
mundo do crime, inovando a maneira de vender drogas e alcançando
cada vez mais um novo público. Ele não precisou estar ou ir numa
favela para vender as drogas. Seu público estava ali na classe média
e alta. Em meio a isso tudo, João ainda teve que lidar com a morte
de seu pai, que estava doente. Com isso, resolve abandonar a casa da
família na zona sul e comprar outra em frente a delegacia de polícia
para facilitar suas vendas ilícitas.
O filme deixa a desejar em
algumas abordagens em que se poderiam ter dado mais enfoque, como por
exemplo, a passagem de João de um mísero usuário de drogas para um
mega traficante não foi clara e bem descrita, confundindo e dando a
impressão de que se tornar um traficante de grande porte como ele,
era coisa muito fácil e acessível. As cenas de seu julgamento
poderiam ter sido mais complexas, mas foram superficiais e também
deixaram a desejar, dando a impressão de que conquistar a liberdade
é fácil, não precisando medir tantos esforços, e a sensação de
que a impunidade prevalece. Mauro Lima poderia também ter explorado
mais o conflito interno pelo qual o jovem João passou, assim como
suas dúvidas, medos e anseios diante das escolhas que teve que
fazer. Por isso, o filme pecou em mostrar de forma sutil e em tão
pouco tempo algumas cenas em que estavam presentes assuntos mais
críticos e importantes do que em outras cenas não tão relevantes
para o âmago da história e que, mesmo assim, tiveram ênfase,
enquanto não deveriam (como foi o caso das cenas das viagens pela
Europa).
Em contrapartida, é
interessante observar que, diferentemente da maioria dos filmes
nacionais, “Meu Nome Não é Johnny” não é um filme que se
utiliza da apelação para ganhar bilheteria. É um filme em que não
encontramos tanto sensacionalismo, nem cenas de nudez e violência,
nem palavras de baixo calão, que praticamente já são
idiossincrasias dos filmes brasileiros. No início do filme, o
espectador tem a sensação de que vai se deparar com uma história
em que o protagonista é elevado a condição de herói. Mas, o que
há de mais comovente é a maneira simples e natural, dando, muitas
vezes, um ar de ingenuidade, em que o autor aborda as atitudes, os
fatos e a história de vida de João. Sua história comove até mesmo
a juíza Marilena Soares (interpretada por Kassia Kiss) que está à
frente do seu caso e que, com isso, adquire um olhar diferenciado
para o intrigante, carismático e intenso João Estrella.
A ida de João ao manicômio o
fez refletir sobre a vida, levando-o a conhecer até mesmo o seu lado
mais humanístico, deparando-se com as consequências e percebendo as
dimensões do estrago que fez com a sua própria vida. Desse modo, o
filme acaba sugerindo o sentimento de que a esperança não está
perdida e a ideia de que no fim tudo pode dar certo. O protagonista
obteve a oportunidade de uma segunda chance para mudar o rumo de sua
vida e conseguiu. Tinha todos os motivos para, após ser preso, se
bandear para o lado dos socialmente excluídos e se tornar uma pessoa
pior e sem escrúpulos. Provou que a superação é possível para os
que querem. Hoje, na vida real, João é produtor musical e um
cidadão de bem que leva uma vida normal e feliz com sua família.
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