segunda-feira, 15 de abril de 2013

Resenha crítica "Meu nome não é Jhonny"


O grande sucesso nacional “Meu nome não é Johnny” é protagonizado pelo autor Selton Mello, que possui grande talento e credibilidade quando o assunto é cinema. Ele representa de maneira simples, porém, brilhante, o polêmico João Estrella, que apesar de jovem, se tornou um dos maiores traficantes de classe média da zona sul do Rio de Janeiro. O drama foi lançado em 2008 com duração de 107 minutos e contou com direção e roteiro de Mauro Lima e Mariza Leão. O longa-metragem é baseado em fatos reais e teve inspiração no livro escrito pelo jornalista Guilherme Fiúza sobre a vida de João Guilherme Estrella. O elenco ainda conta com a participação de grandes atores como Cléo Pires, Júlia Lemmertz, Kássia Kiss, Giulio Lopes, Ângelo Paes Leme, Rafaela Mandelli, entre outros.

Na escola, João sempre se destacou no grupo de amigos em que andava. Era um líder nato. Em casa, sempre foi criado com muita liberdade. Seus pais se separaram quando ele ainda estava na adolescência. Foi nessa fase que após ter fumado o primeiro baseado por diversão com os amigos, João passa a ficar cada vez mais dependente das drogas. À medida que vai crescendo e se tornando adulto, seu vício também cresce e ele passa a vender cocaína e ganhar dinheiro fácil, como ele nunca viu. João se vê vislumbrado e tentado a cair de vez no mundo do crime, a ganhar dinheiro fácil e poder gastá-lo com farras e ter uma vida de boêmio, como sempre quis. Eis que se tornou, sem perceber, e com a ajuda dos amigos também usuários de entorpecentes, o maior traficante de classe média do Rio de Janeiro nos anos 80. De certa maneira, João foi naturalmente e sem perceber um revolucionário do mundo do crime, inovando a maneira de vender drogas e alcançando cada vez mais um novo público. Ele não precisou estar ou ir numa favela para vender as drogas. Seu público estava ali na classe média e alta. Em meio a isso tudo, João ainda teve que lidar com a morte de seu pai, que estava doente. Com isso, resolve abandonar a casa da família na zona sul e comprar outra em frente a delegacia de polícia para facilitar suas vendas ilícitas.

O filme deixa a desejar em algumas abordagens em que se poderiam ter dado mais enfoque, como por exemplo, a passagem de João de um mísero usuário de drogas para um mega traficante não foi clara e bem descrita, confundindo e dando a impressão de que se tornar um traficante de grande porte como ele, era coisa muito fácil e acessível. As cenas de seu julgamento poderiam ter sido mais complexas, mas foram superficiais e também deixaram a desejar, dando a impressão de que conquistar a liberdade é fácil, não precisando medir tantos esforços, e a sensação de que a impunidade prevalece. Mauro Lima poderia também ter explorado mais o conflito interno pelo qual o jovem João passou, assim como suas dúvidas, medos e anseios diante das escolhas que teve que fazer. Por isso, o filme pecou em mostrar de forma sutil e em tão pouco tempo algumas cenas em que estavam presentes assuntos mais críticos e importantes do que em outras cenas não tão relevantes para o âmago da história e que, mesmo assim, tiveram ênfase, enquanto não deveriam (como foi o caso das cenas das viagens pela Europa).

Em contrapartida, é interessante observar que, diferentemente da maioria dos filmes nacionais, “Meu Nome Não é Johnny” não é um filme que se utiliza da apelação para ganhar bilheteria. É um filme em que não encontramos tanto sensacionalismo, nem cenas de nudez e violência, nem palavras de baixo calão, que praticamente já são idiossincrasias dos filmes brasileiros. No início do filme, o espectador tem a sensação de que vai se deparar com uma história em que o protagonista é elevado a condição de herói. Mas, o que há de mais comovente é a maneira simples e natural, dando, muitas vezes, um ar de ingenuidade, em que o autor aborda as atitudes, os fatos e a história de vida de João. Sua história comove até mesmo a juíza Marilena Soares (interpretada por Kassia Kiss) que está à frente do seu caso e que, com isso, adquire um olhar diferenciado para o intrigante, carismático e intenso João Estrella.

A ida de João ao manicômio o fez refletir sobre a vida, levando-o a conhecer até mesmo o seu lado mais humanístico, deparando-se com as consequências e percebendo as dimensões do estrago que fez com a sua própria vida. Desse modo, o filme acaba sugerindo o sentimento de que a esperança não está perdida e a ideia de que no fim tudo pode dar certo. O protagonista obteve a oportunidade de uma segunda chance para mudar o rumo de sua vida e conseguiu. Tinha todos os motivos para, após ser preso, se bandear para o lado dos socialmente excluídos e se tornar uma pessoa pior e sem escrúpulos. Provou que a superação é possível para os que querem. Hoje, na vida real, João é produtor musical e um cidadão de bem que leva uma vida normal e feliz com sua família.



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