terça-feira, 20 de maio de 2014

Neutralidade desde o período Joanino...

Em uma época de crises e agitações, em que a maioria dos jornais do Brasil eram divididos, basicamente, em dois pólos: aqueles que queriam a permanência do poder centralizado no Brasil por Portugal e aqueles que lutavam pela independência do Brasil e liberdade de imprensa, era comum jornalistas terem sucesso nas suas publicações por serem ousados e dizerem o que pensam. Esse tipo de atitude era comum aos jornalistas com idéias liberais. Mas, diante do contexto da época (1822), se o assunto é ousadia, o jornal “Diário do Rio de Janeiro” inovou no que diz respeito ao seu conteúdo e forma de se comunicar. O seu fundador e editor, Zeferino Vito de Melo, conseguiu do governo uma licença para abrir uma tipografia própria para impressão: a Tipografia do Diário. Mesmo omisso à política, o Diário do Rio de Janeiro foi o primeiro jornal informativo do Brasil, se abstendo a divulgar informações baseado nos princípios da neutralidade, não se indispondo com nenhum dos dois pólos citados anteriormente. Outro fator de inovação foi o fato de o jornal interagir com seus leitores deixando caixas espalhadas pelos principais pontos da cidade para que os leitores deixassem seu parecer sobre o que queriam ver publicado. As caixas eram recolhidas às 16 horas e o jornal circulava às 21 horas.
Diante dos fatos expostos acima, percebe-se a aproximação do processo de produção do jornal da época à Teoria da Ação Pessoal ou Gatekeeper, baseada nas rotinas produtivas e na edição mediada pelo jornalista, que decide o que será noticiado e o que será descartado. Assim era o Diário do Rio de Janeiro: priorizava informações de prestações de serviços à população, como os preços dos produtos nos supermercados, informações meteorológicas e movimentos das marés, espetáculos, comércio de escravos, entre outros. O jornal prezava pela informação útil e imparcial. Não publicava notícias com cunho político e social, nem críticas sobre acontecimentos da época. Os valores éticos do jornal assimilavam-se aos valores de Aristóteles na ética grega antiga, baseado na hierarquia de bens, tendo a objetividade, neutralidade e informações de utilidade pública no topo dessa hierarquia.

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